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Amante megera

A vida não é uma amante dócil e gentil que faz todas as suas vontades.
A vida é uma megera cruel e amarga que vai foder com você, e não vai ser prazeroso.
Você quer ser feliz em todo ou qualquer momento da sua existência.
Cobra soluções fáceis, exige resultados sem se preocupar em buscar no dia a dia
as possibilidades para que isso aconteça.
Deixa passar momentos mágicos, sem ao menos se dar conta de que eles estão aí.
Pequenos gestos de carinho não lhe dizem nada.
Superlativa situações que o contraria e permite que isso arruíne seu dia.
Pretere interatividade pessoal e valorizando a virtual.
Acorda verificando redes sociais quase mesmo antes de tomar consciência de um novo dia.
Vê paisagens através de uma tela full HD, curte e compartilha na Web
Os detalhes só são percebidos quando se aumenta o zoom...
E algumas das frases mais ouvidas e comentadas são: "Tá td uma merda"; "Cansei de ser sozinho(a)"; "Ele(a) tem muitos contatinhos"; "Faço tudo por ele(a) e não tenho valor".. e por aí vai!
É, a vida não é uma amante dócil e gentil... Ela é uma megera que vai foder com você .. Mas só porque, antes, você fodeu primeiro ... sem prazer.



Silêncios possíveis

A noite chega e com ela um silêncio possível. 
Nesse silêncio posso encontrar-me comigo e bater um delicioso papo de amiga! 
Contar um pouco sobre meu dia, falar de minhas preocupações, rir das bobagens ditas... Espairecer. 
Mas nem sempre tenho paciência, e, irritada, preocupo-me com os afazeres do dia seguinte, com as contas a pagar, com os problemas dos filhos, com a faxina a ser feita... 
e coloco-me de escanteio, prometendo que amanhã cuidarei mais de mim. 
Durmo, e quando não tenho insônia, sonho sonhos desconexos, cansativos, 
que me fazem acordar exausta!
Deveria dar ouvidos a mim, e me cuidar mais, e aproveitar os silêncios possíveis 
e bater um delicioso papo de amiga ao som de uma bela canção composta no mais íntimo de meu coração!

Coração, meu habitat

Quanto ao anuncio 
que vi, doando um coração:
A mim até interessaria
pois o que está em meu peito
encontra-se todo avariado

resgado, remendado
rasgado de novo e sem jeito
Está quase destruído
(Ainda bate, descompassado)
Sangra excessivamente
como se chorasse 
lembrando de dias felizes
mas, apesar de meio confuso, 
é honesto, não mente
Tenta às vezes ser criança,
Apesar da idade um tanto avançada.
Lembra de cantigas, das cirandas
De amores passados
De pessoas perdidas
De oportunidades não aproveitadas.
Já tentei me desfazer dele,
mas está enraizado.
Diz-me toda vez que tento:
Espera mais um pouco!
E eu digo: Você me machuca.
E ele responde: Você me deixa exposto
Acredita, quero acertar, estou disposto!
Então, vou ficando com ele mesmo...
Já estou acostumada
E ele acostumado a mim.
E juntos continuamos esperando
Outro coração que seja amigo
E que enraizado também esteja
Para juntos florirmos
Darmos frutos 
e com carinho cuidarmos 
das feridas um do outro!

(Patricia Machado - inspirado na poesia "Anuncio" de Fernando Paz)

Tempestade

Estou chovendo. 
Gotas de sonhos e esperanças vãs batem em minhas janelas. 
Estão fechadas. 
Nuvens pesadas e escuras tiram a visibilidade. 
Apenas os sons dos trovões e o brilho assustador dos relâmpagos parecem atravessar as barreiras. 
A chuva que se choca em meu telhado parece querer dizer-me algo. 
Descem por minhas paredes lavando e levando tudo. 
Fecharei meus olhos e dormirei. 
Estou cansada. 
Quem sabe amanhã, lavada pela chuva, estarei limpa e renovada, levada a um novo alvorecer...? 
Mas agora estou cansada. 
Estou chovendo.

Hoje

Hoje, se eu pudesse, não falaria com ninguém. 
Seguiria meu dia em silêncio, sairia para trabalhar em módulo invisível. Não me obrigaria a colocar um sorriso no rosto nem olhar para o rosto de ninguém.
Hoje, se eu pudesse, esqueceria as regras de etiqueta, de educação e de gramática 
Se eu pudesse, seria apenas eu, fazendo o que quisesse...
Não me obrigaria a nada!
Hoje, se eu pudesse me tornaria invisível, que é apenas e simplesmente como me sinto.
Deixaria minhas lágrimas caírem livremente sem me preocupar em explica-las
E se junto viessem soluços e sons, deixaria o volume no máximo
Não ouviria conselhos, apesar de saber que tentam me ajudar.
Hoje, se eu pudesse, deixaria de sentir...
Colocaria-me no modo automático, sem programação
Hoje, se eu pudesse, não terminaria de escrever essas palavras...

Ilusão

O amor que sentes não é real
Nem real é os sonhos que tens sonhado.
É vívido, me dizes categórico
Iludido, digo-te ponderando.
Eu o sinto tão forte, tu não sabes!
Mas machuca-te, não é verdade?
Responde-me com o silêncio
Eu me calo, em solidariedade...






Nas pontas dos dedos

Sinto que aos poucos as mãos, que até então estavam unidas, estão se soltando.
Eram fortes e formavam um elo seguro.
Sabia que, não importava o quanto demorasse, assim que nossos olhos se cruzassem, estaríamos com as mãos unidas novamente!
Sabia, sei, que era apenas um símbolo, que o elo mesmo era mais que as mãos, era muito mais, ia além do físico. Entretanto, o contato sempre foi essencial, ao menos para mim.
Sempre nos comunicamos por olhares, creio até que por pensamento e sempre rimos dessa ligação, não de gozação, mas por ela existir.
Porém, o tempo é, muitas vezes, cruel e mostra rumos diferentes... e seduz, e instiga a novas conquistas.
Sim, eu sei, isso é bom, é o movimento que nos leva adiante e que não nos deixa estacionados no marasmo da comodidade.
Ah! Sim, as mãos... aos poucos não as sinto mais. Muitas vezes me vejo escorando pelas paredes tentando achar o conforto do conhecido, da presença. E, apesar de estar presente, não está mais... ou quase.
A vida é realmente bela e deve ser saboreada com todos os sentidos e os interesses já não estão assim tão interessantes.
Reciclar?
Sinto que caminhamos para o ponto onde nossas mãos já não se tocarão mais e apesar do elo que nos une ser forte para nos manter próximos ele ....
... suas mãos se desprendem da minha.


Antes de Fechar os olhos


A vida é uma sucessão de idas e vindas,
você já dever ter ouvido falar.
O que não foi dito, talvez,
é que nem sempre se consegue
passar pelas situações sem se machucar.
Um amigo que vem, um amor que vai,
um trabalho que chega,
uma vida se esvai.
Um choro soluçado,
um suspiro estrangulado.
A palavra não dita,
o silêncio ensurdecedor
e enlouquecidas saudades não vividas.
Hoje se tem o pai, a mãe, o irmão, o filho.
Amanhã, quem sabe?
Não tem mais nada?!
E como andar em equilíbrio pela corda bamba,
sabendo, talvez, que a vida é feita de idas e vindas?
E no vai e vem dos dias
Simplesmente... aceitar?

É a Vida!

Outro dia comecei a anotar umas coisas... umas ideias, pensamentos que me vieram à cabeça, mas precisei parar pra separar uma briga entre meus filhos e quando voltei às anotações, já não tinha mais ideia de onde eu queria chegar com aquelas palavras.
Pois é, agora eu estou assim: começo um raciocínio e se parar antes de concluir .... pode esquecer porque, com certeza, eu esqueci!!!!!
Tá vendo? Já esqueci o que eu ia falar. Agora eu tô assim: se eu parar no meio de um raciocínio.... Eu já falei isso né? Então, é isso que eu estava falando: Acho que é problema de “umidade”... Uma idade em cima da outra, sabe como é que é? A gente vai ficando mais velha, os problemas vão aumentando e a memória diminuindo.... Ah! O dinheiro, o ânimo e o vigor pra resolver e fazer tudo quanto é coisa que aparece, sabe? Então, isso tudo diminui.... Ah! E os olhares e assobios dos rapazes também diminuem... ou melhor somem! É... porque tudo isso aqui, peito, bunda, coxa, barriga, aumenta!!!!!
E o marido então? Tem hora que parece que só esttá cumprido com uma regra sabe? Ou um protocolo.... Ah! Só por necessidade mesmo........ dele!! Não, porque verdade seja dita: Ele chega, tira a roupa (quando tira) e ah ah ah ah! uh uh uh uh e uuuhhhhhh !!! Beijinho rápido, rola pro lado e ronca!!
Mas os vizinhos aqui do lado, hum, vou te contar.. Parece que vivem no cio!! É de manhãzinha, é na hora do almoço... bom de noite nem precisa falar né??? às vezes fico até com inveja dela e às vezes pena... porque verdade seja dita.... acho que ela fica com a dita assada!!!!
Mas porque eu to falando tudo isso mesmo???? Caramba, quando eu comecei a falar sobre isso eu tinha um propósito, juro que tinha! E agora não sei mais qual era! Mas enfim, deixa pra lá. Então, sabe? É como eu falei antes, problema de idade... eu falei né? Que a gente vai ficando mais velha e tal? Ah sim falei. Falei sim. Que a gente vai ficando velha... não sei que, a vizinha …. não sei que.... Verdade.
Então, acho que tudo é problema da idade! Além do que é muita coisa na cabeça da gente, né? É casa, é filho, é marido... e se não tem marido, é noivo ou namorado e se não tem nada disso é uma coisa assim: “Ai não tenho ninguém, tô sozinha... ai! Ninguém me ama, ninguém me quer, ninguém me chama de mulher!! Ai ai...” E tem o trabalho, o chefe, a “amiga” do trabalho... E quando tem aquele “amigo” do trabalho, sabe? Que chega de repente, e para perto da gente e quando sai deixa aquele perfume que ….. ai, arrepia!!! Olha, que o Silas não me ouça, mas.... hummm... ai ai.
Ah, mas é só em sonho mesmo. Até parece que o Zé Luiz vai olhar pra mim e.... Quer dizer, pode ser um Zé Luiz, ou Mauro José, ou Pedro Luiz... Zé Luiz é assim, figurativamente falando tá? Eu sou casada, peraí! Não, tudo no maior respeito, pelo amor de Deus!!! Para com isso!!
Então, mas voltando ao assunto. Outro dia uma amiga minha mandou um torpedo dizendo que a cada dia que passava mais ela sentia que o seu fim estava chegando – Estava de TPM, mas não vou nem entrar nesse assunto. Fazer o que né? É a vida. Os dias vão passando, a gente vai ficando mais velha e a única certeza que a gente tem é que um dia nosso fim vai chegar mesmo!
Agora eu me pergunto: Precisa despencar tudo? Precisa ter um casal de vizinhos no cio, pra matar a gente de inveja... ou de dó?? Precisa o marido perder o interesse na gente e pra piorar ter um amigo de trabalho que … ai! Precisa? Precisa a gente ficar desmemoriada? Não precisa né? Uma vez eu li um artigo, numa dessas revistas que a gente lê nos consultórios médicos e odontológicos da vida, uma matéria falando sobre isso: Memória. E exercícios para melhorá-la... O problema é que não me lembro qual revista e muito menos o consultório....
É... agora eu tô assim, sabe? Esquecendo quase tudo e por falar em esquecer, eu tenho a sensação de que estou esquecendo alguma coisa....
Ai, meu arroz tá queimando...!!!!!!

(escrito em 2012)

Prisão

Ao longe vejo uma luz que me cega. 
Aos poucos, acostumados com o brilho, meus olhos definem formas. E então deparo-me com a mais aterradora consciência: Barras que me mantem cativa, presa, acuada... 
Tento alcançar algo que possa me ajudar a sair dali e então desisto, pois um arrepio gélido percorre meu corpo...Não há nada! Nada além das grades que construí tentando me proteger. 
O que me protege me mantem presa. 
Mas a loucura não precisa de portas, janelas ou espaços para entrar. Ela se projeta das sombras do inconstante desejo de proteção... pois sabe que é ali, onde há grades invisíveis, que mora a fragilidade do meu eu.
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