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Essência

"Ao término do dia
chegava em casa e então, só então passava a existir
Deixava num canto a roupa usada, os sapatos ao lado
e abria o chuveiro
A água corria por todo o corpo
lavando não só a carne, mas a alma
Nessa hora seus pensamentos falavam
A toalha que deslisava na pele molhada
sugava as gotas da água do banho
Seus pensamentos, às vezes gritavam
Tinham a intensão de serem ouvidos!
Nem sempre conseguiam...
O coração já não batia mais
- estava cansado de apanhar -
seguia no seu dum dum rítmico, uníssono
Sentia que no interior da residência,
na proteção das paredes sem vida
Poderia seguir vivendo
apenas viver, sem surpresas
A liberdade de não precisar falar,
de não precisar sorrir, de poder chorar
- se quisesse -
de dançar ou rodopiar ao som do silêncio
Isso fazia parte de sua existência mais verdadeira
Ali, não tinha medo, podia ser, apenas
Mas então, cabeça apoiada no travesseiro,
escuridão propicia para dormir
às vezes, só às vezes, sentia medo
De terminar sua vida, como era vivida
no mundo lá fora
Tendo como companhia apenas a solidão."

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